Será só fogo de palha?
O garoto desperta cedo e sem escovar os dentes apanha os dois reais que ficou ao lado da sua cama a noite toda, dinheiro que previamente havia sido destinado à compra daquela manhã. Vai correndo até a banca que fica a algumas quadras de sua casa e compra o jornal de esportes, onde está estampado em quase toda sua capa a foto de Adriano, o Imperador, seu grande ídolo.
O menino mal conseguiu acreditar quando soube no dia anterior que o craque jogaria pelo seu clube de coração, o Corinthians. Deu pulos de alegria e desde então separou a grana para a compra do jornal, quantia que ele pretendia a princípio usar na aquisição de uma pipa. Entretanto, enquanto pregava a foto de Adriano na parede de tinta descascada do seu quarto, bem ao lado da de Ronaldo Fenômeno, o garoto nem mais se lembrava da pipa e só pensava agora em conseguir dinheiro para comprar na barraquinha do seu Zé a camisa com o nome do Imperador.
Logo que o pai chegou do trabalho, o garoto pegou nas mãos dele e o levou ao quarto, todo orgulhoso, para mostrar como tinha ficado bonito o pôster improvisado. Sentado na cama, o pai apanhou o restante do jornal sem capa abandonado no chão e leu toda a matéria da contratação do jogador.
Ficou combinado então que acompanhariam a festa de apresentação do novo reforço do Timão, desde que o pai conseguisse alguém que cobrisse o seu turno na fábrica onde trabalhava. Os dois ficaram ali no quarto conversando por longo tempo, como há muito não acontecia, tudo motivado por aquela nova aquisição corintiana. Decidiram também que iriam ao primeiro jogo do Imperador no Pacaembu, e desta vez o filho, com os olhos brilhando, não aceitou qualquer condição imposta pelo pai, já se imaginando aos berros em meio à torcida saudando o seu maior ídolo.
É Adriano, é por isso, por tudo isso, que você deve respeitar e muito o bando de loucos. Se for para embriagar, que seja o coração dos corintianos com a conquista de títulos. Se quiser farrear, que seja no compasso da torcida após balançar a rede. É isso Imperador, ao invés de ficar de fogo, faça como Nero, incendeie a massa alvinegra e bem vindo ao Corinthians, inflamável por natureza.
Anderson
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